As chances de recuperação dessa doença, que muitos especialistas chamam de "doença adquirida" (lembrando que a adição não tem cura), são das mais baixas que se conhece dentre todas as droga-dependências. A submissão voluntária ao tratamento por parte do dependente é difícil, haja vista que a "fissura", isto é, a vontade de voltar a usar a droga, é grande demais. Além disso, a maioria das famílias de usuários não tem condições de custear tratamentos em clínicas particulares ou de conseguir vagas em clínicas terapêuticas assistenciais, que nem sempre são idôneas. Nas comunidades terapêuticas, as internações acontecem voluntariamente. Estão regulamentadas pela Resolução nº 101/2001 da Vigilância Sanitária, mas várias das que funcionam atualmente estão fora das normas.
É comum o dependente iniciar, mas abandonar o tratamento.
A imprensa também tem mostrado as dificuldades sofridas por parentes de viciados em crack para tratá-los. Casos extremos, de famílias que não conseguem ajuda no sistema público de saúde, são cada vez mais comuns.
A melhor forma de tratamento desses pacientes ainda parece ser objeto de discussão entre especialistas. Muitos psiquiatras e autoridades posicionam-se a favor da internação compulsória em casos graves e emergenciais, cobrando revisão da legislação brasileira, que restringe severamente a internação compulsória de dependentes químicos, e aumento de vagas em clínicas públicas que oferecem esse tipo de internação. Contra a internação involuntária, há argumentos de que é muito baixa a eficácia do tratamento sem que haja o desejo da pessoa de se tratar. Por outro lado, admiti-la como foco de uma política de tratamento dos usuários de
crack poderia abrir espaço para a violação de direitos humanos, como ressaltou Pedro Abramovay, em entrevista na Revista Cult, 165, ano 15, fevereiro 2012: "Não dá para não pensar na metáfora de
Machado de Assis - a internação compulsória pode levar todos à Casa Verde [hospício criado por Simão Bacamarte em '
O Alienista']."
Desde 21/01/2013, entrou em vigor o programa de internação compulsória de viciados em drogas, do governo do Estado de SP.
Poucas cidades brasileiras possuem o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e drogas (CAPS AD). Essa modalidade de CAPS foi criada pela portaria ministerial nº 336 de 10 de fevereiro de 2002. Possui atendimento ambulatorial e hospital-dia com equipes interdisciplinares cuja a função é criar uma rede de atenção aos usuários de álcool e outras drogas.
Outra estratégia de intervenção voltada à abordagem do usuário de crack são os chamados "Consultórios de Rua".
A recuperação não é impossível, mas depende de muitos fatores, como o apoio familiar, da comunidade, a existência de rede de saúde adequada e, de modo especial, a persistência da pessoa (vontade de mudar). Além disso, quanto antes procurada a ajuda, mais provável o sucesso no tratamento. Segundo o médico psiquiatra Marcelo Ribeiro de Araújo, "Faz-se necessário a constituição de equipe interdisciplinar experiente e capacitada, capaz de lhes oferecer um atendimento intensivo e adequado às particularidades de cada um deles, contemplando suas reais necessidades de cuidados médicos gerais, de apoio psicológico e familiar, bem como de reinserção social".
No caso de internação, pode ser de extrema importância o acompanhamento do usuário após esse período, para que não recaia no vício.
Seis vezes mais potente que a cocaína, o crack tem ação devastadora provocando lesões cerebrais irreversíveis e aumentando os riscos de um derrame cerebral ou de um infarto.
Diferentemente do que se poderia imaginar, porém, não são as complicações de saúde pelo uso crônico da droga, mas sim os homicídios, que constituem a primeira causa de morte entre os usuários, resultantes de brigas em geral, ações policiais e punições de traficantes pelo não-pagamento de dívidas contraídas nesse comércio. Outra causa importante são as doenças sexualmente transmissíveis, como a
síndrome da imunodeficiência adquirida por exemplo, por conta do comportamento promíscuo que a droga gera. O modo de vida do usuário, enfim, o expõe à vitimização, muitas vezes e infelizmente levando-o a um fim trágico.
Estudos indicam que a porcentagem de usuários de
crack que são vítimas de homicídio é significativamente elevada: O pesquisador Marcelo Ribeiro de Araújo acompanhou 131 dependentes de
crack internados em clínicas de reabilitação e concluiu que usuários de
crack correm risco de morte oito vezes maior que a população em geral. Cerca de 18,5 por cento dos pacientes morreram após cinco anos. Destes, cerca de 60 por cento morreram assassinados, 10 por cento morreram de
overdose e 30 por cento em decorrência de síndrome da imunodeficiência adquirida.
Disseminação do vício
Estatísticas e apreensões policiais demonstram um aumento percentual do consumo de crack em relação às outras drogas, vindo seus usuários das mais variadas camadas sociais. Outros estudos relacionam a entrada do crack como droga circulante em São Paulo ao aumento da criminalidade e da prostituição entre os jovens, com o fim de financiar o vício. Na periferia da cidade de São Paulo, jovens prostitutas viciadas em crack são o nicho de maior crescimento da síndrome da imunodeficiência adquirida no Brasil.
Outras drogas, sobretudo a cocaína, funcionam, via de regra, como porta de entrada para o crack a que o usuário recorre por falta de dinheiro, para sentir efeitos mais fortes, ou ainda por curiosidade.
Ao local público onde legiões de usuários costumam se aglomerar para fazer uso da droga a mídia deu o nome de
cracolândia. Esses mesmos locais são cenários de tráfico de entorpecentes, prostituição, etc., prejudicando sobremaneira o comércio nas adjacências. O efeito social do uso do crack é o mais deletério e, nesse sentido, o seu surgimento pode ser considerado um divisor de águas no submundo das drogas. As pedras começaram a ser usadas no ano de 1990 na periferia de São Paulo e, segundo se diz, de início as próprias quadrilhas de traficantes do Rio de Janeiro não permitiam a sua entrada, pois os bandidos temiam que o
crack destruísse rapidamente sua fonte de renda: os consumidores.
Entretanto, em menos de dois anos a droga alastrou-se como uma praga por todo o Brasil. Recentes reportagens demonstram que o entorpecente tornou-se o mais comercializado nas favelas cariocas multiplicando os lucros dos traficantes.
Atualmente, pode-se dizer que há uma verdadeira "epidemia" de consumo do crack no País, atingindo cidades grandes, médias e pequenas. Efetivamente, é o que aponta recente pesquisa da Confederação Nacional de Municípios, amplamente divulgada, segundo a qual o crack é consumido em 98 por cento das cidades brasileiras.
Segundo pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisa de Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Brasil é o maior mercado consumidor de crack do mundo.
A disseminação do uso do crack configura ainda um grave problema de saúde pública, com tendência a acarretar forte impacto para o custeio do sistema público de saúde. Já existem precedentes e decisões de Tribunais de Justiça condenando o Poder Público Estadual a custear tratamentos a usuários crônicos da droga.
Alguns consumidores, em especial do sexo feminino, na prostituição de baixo nível, visando somar recursos para manter o próprio vício, utilizam-se da introdução de pequenas porções de crack em cigarros de
maconha, no que é chamado de "
desirée", "mesclado", "craconha" ou "criptonita", na gíria do meio consumidor e traficante de crack. Esta prática também é utilizada por traficantes, que adicionam uma pequena quantidade de crack à maconha e vendem aos usuários, sem que estes saibam. É uma tática cruel para obter novos viciados.
Questões econômicas
Embora gere menos renda para o traficante por peso de cocaína produzida, o crack, sendo mais viciante, garante um
mercado cativo de consumo.
A pressão sobre o tráfico de cocaína (de menor volume e maior
valor agregado) para os países ricos tem deslocado o tráfico para o mercado de
crack, passível de ser facilmente colocado para populações de baixa renda.
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